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domingo, 3 de julho de 2011

A viagem do Beagle


 Uma das aventuras mais conhecidas da história da ciência é a viagem que o jovem Charles Darwin realizou, a bordo do navio britânico HMS Beagle, entre os anos de 1831 e 1836. Darwin embarcou no Beagle para servir de acompanhante ao capitão do navio, o aristocrata inglês Robert Fitzroy. Foi nessa viagem que Darwin pode desenvolver todo o seu interesse, trazido desde a infância, pelo mundo natural.  
 O Beagle deixou a Inglaterra no dia 27 de dezembro de 1831. O objetivo principal era cartografar o litoral da América do Sul. Darwin tinha apenas 22 anos e era um recém formado em teologia, mas com forte vocação para as ciências naturais. A princípio, a expedição deveria explorar pontos como Rio de Janeiro, Patagônia e Terra do Fogo, costa do Chile, Peru e algumas ilhas do Pacífico. No entanto, acabou alcançando a Nova Zelândia, Austrália, sul da África, retornou a Salvador e então rumou de volta à Inglaterra. Assim, a viagem, que estava prevista para durar dois anos, acabou durando quatro anos e nove meses.
 O Beagle, após passar por Cabo Verde, rumou para a América do Sul e chegou ao arquipélago de Fernando de Noronha onde fez uma rápida parada. No dia 29 de fevereiro de 1832, o navio aportou em Salvador, na Bahia. Darwin chegou a Salvador em pleno período de carnaval e se assustou com o entrudo, uma brincadeira de rua bastante violenta trazida pelos portugueses no século XIX:
 “Este é o primeiro dia de carnaval, mas Wickman, Sullivan e eu, nada destemidos, estávamos determinados a encarar seus perigos. Esses perigos consistem em ser alvejado sem misericórdia por bolas de cera cheias de água e sair encharcado por grandes seringas de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade, enquanto caminhávamos nas ruas”, segundo trecho extraído do diário de anotações de Darwin.  
 Mas foi também em Salvador que Darwin teve o seu primeiro contato com uma floresta tropical, tendo ficado deslumbrado com o que viu: “O dia todo foi um deleite. No entanto, deleite é um termo fraco para expressar os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, perambula sozinho por uma floresta brasileira”.
 De Salvador, a expedição veio descendo a costa brasileira e ancorou no Rio de Janeiro no dia 5 de abril. Darwin percorreu o entorno do Rio coletando espécimes de insetos e répteis, além de fazer medições topográficas da costa.
 No dia 10 de maio, o Beagle foi obrigado a retornar à Bahia e Darwin resolveu permanecer sozinho no Rio. Darwin morou em Botafogo, um local bastante tranqüilo naquela época. O naturalista subiu o Corcovado, onde se encantou com a vista. Na época, o Corcovado era conhecido por abrigar quilombolas e escravos fugidos. Darwin também realizou expedições pela Floresta da Tijuca, Pedra da Gávea, entre outros. 
 Visitou o Jardim Botânico, onde ficou decepcionado com o que encontrou: “Andei até o Jardim Botânico. Esse nome deve ter sido dado mais por cortesia do que por qualquer outro motivo, porque ele é na verdade apenas um lugar de diversão. Seu maior e principal interesse é o cultivo de muitas plantas notórias por sua utilidade. Há alguns acres cobertos por pés de chá-da-índia. Fiquei um tanto decepcionado ao ver um pequeno arbusto insignificante com flores brancas e plantadas em fileiras retas”. 
 Darwin viajou pelo norte fluminense subindo a serra da Tiririca, em Niterói; passou por Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Barra de São João, Macaé, Conceição de Macabu, Rio Bonito e Itaboraí. Ainda hoje pode se encontrar alguns desses lugares por onde o naturalista passou e descreveu em seu diário, como a Fazenda Itaocaia, em Maricá, a Estrada do Vai e Vem, onde passou quando viajava pela região de Niterói, e ruínas da Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, onde Darwin elogiou a comida.
 Apesar de todas as belezas naturais que pôde observar no Brasil, Darwin também fez muitas críticas ao país. Em seu diário de viagem, o naturalista criticou muito a existência da escravidão e a burocracia brasileira. 
 O historiador Milton Teixeira confirma a decepção de Darwin com certos aspectos do Rio de Janeiro e do Brasil. “É interessante que, em 1832, não só Darwin, como outros ingleses que estavam aqui, consideravam o Rio de Janeiro um caos. O país estava numa decadência profunda. Dom Pedro I havia renunciado no ano anterior e o país estava sacudido por revoltas civis muito pesadas. Em um de seus relatos, Darwin chegou a dizer que acreditava que o Rio de Janeiro estava em profunda decadência, os serviços urbanos estavam negligenciados e o que salvava mesmo era a natureza, tanto que ele vai morar em um bairro distante (para a época), chamado Botafogo. O interessante é que muitos que visitam o Rio hoje têm uma visão parecida. A cidade está um caos, tiroteio em favelas, pessoas sendo mortas, assaltos, de modo que há esse paralelismo curioso. Existia um pintor, que veio com Darwin, que fez uma série de aquarelas da cidade e algumas são bem atuais, com as pessoas apanhando da polícia nas ruas, muita coisa de uma certa maneira não mudou.O Rio de Janeiro depois se recuperou, mas Darwin não voltou aqui para ver isso. Ele veio nesse momento específico e o que interessava era a natureza e isso ele ainda encontrou intacta. Se hoje ele voltasse, com certeza ficaria decepcionadíssimo em ver os morros pelos quais andou tomados pelas favelas e bandidos. Hoje ele não teria a mesma liberdade para andar por aqui, é triste isso mas é algo que você não tem como deixar de constatar”, destaca o historiador.
 O Beagle deixou o Rio de Janeiro no dia 5 de julho de 1832, com destino a Montevidéu, dando continuidade à expedição. De lá o navio seguiu para a Argentina onde, em setembro, ancorou ao largo de Bahía Blanca, um povoado na extremidade de uma baía situada cerca de 650 quilômetros ao sul de Buenos Aires. O Beagle permaneceu na região por mais de um mês, tempo suficiente para Darwin deleitar-se com as carnes de Tatu, que segundo ele se assemelhava a do Pato, e de Ema, animal que o naturalista chamava de pequeno Avestruz.
Na praia de Punta Alta, em Bahía Blanca, Darwin encontrou o fóssil de uma preguiça e um tatu gigante (era o gliptodonte, extinto há 10 mil anos). O Beagle também passou pela Patagônia e pela Terra do Fogo, até chegar ao Oceano Pacífico. No Chile, o naturalista subiu a cordilheira dos Andes. 
 Do Chile, a expedição partiu para o arquipélago de Galápagos, onde aportou por um mês, em setembro de 1835. Nesse arquipélago, Darwin coletou espécies de plantas e animais, fez anotações, e se impressionou com as características distintas de cada uma das ilhas que visitou. Ele observou tartarugas, iguanas e uma enorme variedade de aves, constatando que eram diferentes de ilha para ilha. 
 “Coletei industrialmente todos os animais, plantas, insetos e répteis desta ilha. Será muito interessante descobrir, a partir de futuras comparações, a que distrito ou centro de criação devem ser ligados os seres organizados deste arquipélago”, escreveu Darwin em seu diário.
 Nas ilhas de Galápagos há várias espécies endêmicas, entre elas destaca-se um grupo de 13 espécies de fringilídeos. Essas aves são popularmente conhecidas como “tentilhões de Darwin”. Os tentilhões inspiraram Darwin nas primeiras reflexões sobre a origem das espécies e mostraram que é possível testemunhar a evolução acontecendo em tempo real.
 Depois de Galápagos, o Beagle rumou para o Taiti, Nova Zelândia, Austrália, Ilhas Coco, retornou ao Brasil, aportou em Salvador e em Recife, e, por fim, voltou à Inglaterra em outubro de 1836.
 Os resultados imediatos da viagem foram o livro A Viagem do Beagle (1838), baseado nos diários de Fitzroy, a transcrição do diário de Darwin (1839) e os artigos sobre a geologia da América do Sul, baseados nas observações de Darwin e no livro Princípios da Geologia, de Charles Lyell. O livro A Origem das Espécies, que tornou Darwin conhecido mundialmente, só veio a ser publicado em 1859.

Fonte: http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/temas-especiais-19a.asp

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